Vamos falar sobre segurança?

Segurança.

Se há 6 anos atrás me dissessem que esta palavra ia tornar-se tão importante na minha vida, eu não acreditaria. Esta palavra estava entre aquelas que me repeliam. Eu que sempre me identifiquei com a mudança, a evolução, os saltos para fora da zona de conforto. Como assim a segurança vai tornar-se o meu centro vital?!

Hoje olho para trás e sorrio perante a minha ingenuidade e o quanto eu me desconhecia a mim mesma, o quanto estava enganada sobre aquela que é a minha essência, sobre a minha verdade. Não fazia mesmo ideia o que estava escondido debaixo da armadura que vesti na infância e que se tornou a minha pele. Eu achava que não precisava de segurança e, no entanto, andava de armadura sempre vestida. E afinal para que se usa uma armadura? Exato. Só quem precisa muito de se sentir segura, veste uma armadura e nunca a despe.

Esta fui eu. A menina cheia de medos, que precisou aprender a defender-se sozinha para sobreviver e por isso vestiu uma armadura. Vestiu uma armadura, isolou-se e distanciou-se dos perigos e tornou o controlo o seu melhor amigo. Controlar era a forma de me sentir sempre segura e garantir que nada de mal ia acontecer. Controlar deixou de ser apenas uma estratégia para lidar com a insegurança e tornou-se mesmo um estilo de vida. Tornou-se parte da minha identidade e estava tão colado a mim que eu nem percebia. Por isso, a segurança não era um problema. Claro que não era. Eu estava tão blindada de defesas que não havia oportunidade de sentir a insegurança.

Só quando comecei a fazer o trabalho interno e a despir camadas é que a verdade surgiu. Afinal eu era a mulher guerreira que escondia dentro uma menina muito ferida, com muitos medos e muitas inseguranças. Uma menina encolhida e inerte com medo de sair do seu cantinho e de ser atacada.

Depois de muito trabalho interno, a encarar de frente esta menina e os seus traumas, comecei a despir a armadura, a baixar a guarda, a libertar o controlo e foi aí que ela começou a surgir. A falta de segurança. E foi aí que eu percebi o tanto que preciso dela na minha vida.

Agora a cada passo que quero dar para fora da minha zona de conforto o alarme apita. A cada acontecimento que ativa uma das minha feridas, o alarme apita. A cada padrão de comportamento que quero mudar, o alarme apita. É assustadora a quantidade de coisas, às vezes muito básicas, que fazem o alarme apitar. Mas é normal. Não posso retirar os mecanismos de defesa da minha vida toda e querer continuar a seguir segura como se nada fosse.

Por isso, sim, a segurança é hoje um pilar central na minha vida. A segurança emocional, a segurança interna. Todos os dias tenho de relembrar a minha criança interior que ela está segura, que eu estou aqui, que não a vou deixar e que ela pode confiar em mim. Nos passos arrojados que quero dar e nas coisas simples, como perante uma insónia. É incrível a potência da frase "É seguro, podes dormir.".

Manter a minha criança interior segura é o ponto crucial para me permitir viver de coração aberto e concretizar tudo o que desejo para a minha vida. Agora sei que se ela não se sente segura vai sabotar-me, por isso acolhê-la e cuidar das suas necessidades é prioridade.

Criar um projeto autoral em que preciso expor-me e correr "riscos de morte" para a minha criança, como ser julgada, falhar ou ser rejeitada, é um verdadeiro desafio. E agora compreendo perfeitamente porque ando há 5 anos entre avanços e recuos neste mundo do empreendedorismo. A mulher adulta quer muito realizar o seu sonho de ter um negócio próspero, mas a criança dentro de mim acha isso demasiado inseguro.

Têm sido 5 anos de um verdadeiro trabalho interno, entre várias terapias, ferramentas e ajudas, entre muitos saltos para a arena e aprendizagens na prática, entre muita escuta interior e muita abertura ao sentir, entre muita conexão com o corpo e com a alma. É inevitável. Quando queremos empreender, entramos num verdadeiro processo de desenvolvimento pessoal. Hoje percebo que esse foi o caminho que a minha alma escolheu, desenvolver-se a partir do servir. Durante anos, o trabalho foi o meu escape à dor e depois tornou-se um gatilho para mergulhar na dor e transformá-la.

E agora aqui estou eu. Não pronta para criar o meu projeto autoral, mas decidida a criá-lo mesmo sem me sentir pronta. E, sobretudo, decidida a fazê-lo de forma diferente de todas as outras vezes. Ciente que este é um caminho repleto de desafios. Agora sei que se quero ser bem sucedida nesta jornada, preciso ir devagar, preciso ir de mão dada com a minha criança e ela dá passos pequeninos. A cada resistência, bloqueio, dúvida ou medo, preciso sentar-me e conversar com ela, acolhê-la e dar-lhe a segurança que ela precisa para seguirmos caminho juntas.

Criar o meu projeto autoral, agora é também percorrer um caminho diário de amor-próprio.

E é sobre esta minha jornada criadora que é também uma jornada de vulnerabilidade que vou falar por aqui nos próximos tempos.

Se me quiseres acompanhar por aqui, espero que as minhas partilhas te possam trazer força e coragem para o teu caminho. Somos todos diferentes, mas muito iguais naquilo que sentimos. E quando percebemos que partilhamos as mesmas dores, isso traz-nos sempre algum alento. Afinal não estamos sozinhas nisto. E juntas somos mesmo mais fortes.

Vamos lá!

Comentários

  1. Parabéns pelo teu novo projecto e também pela força e coragem de enfrentares os teus medos e bomwueios e seguires em frente!A vida mostra-nos o caminho a seguir da melhor ou da maneira menos boa!Grata pela partilha!Beijinho e abraço apertado!

    ResponderEliminar
  2. Parabéns por esta Jornada Criadora!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário