80% do trabalho não é trabalho

Sente. Respira. Pára. Vai devagar. Lembras-te? Estás há um ano a aprender a seguir devagar. Lembras-te como tudo muda quando te permites explorar o ritmo lento, subtil, feminino? O meu corpo lembra-se, reconhece, aceita e pede-me para me deixar ficar. Sentir primeiro. É sempre esse o primeiro passo. É sempre esse o passo que faz a total diferença. Vai para o corpo e sente. É aí nesse teu espaço seguro que habitam todas as respostas, é aí que se esconde a tua verdade. Cansada de estar escondida, faminta por se desnudar. Dá-lhe espaço. Abre-lhe o caminho para se revelar. Aceita. Aceita-te. Assume a tua inteireza e permanece nesse sentir onde és. Sem mais nada. Só tu e tu. Só tu e eu. Só este nós que somos tudo.

Agora sim. Mais eu. Mais inteira.

Cheguei a esta página em branco para falar de energia, a minha. Cheguei para falar do meu padrão do fazer fazer fazer. Vinha falar da sua toxicidade e quando dei por mim tinha sido apanhada na curva. Porque já estava a escrever exatamente a partir desse padrão. Ironia pura. Apaguei tudo e voltei ao corpo.

É sempre neste regresso ao corpo que tudo muda. Desde que me permiti despir a armadura e sentir as milhentas sensações e emoções que me trespassam a cada momento que tudo mudou. Eu mudei. Mas essa mudança continua a ser uma escolha todos os dias. Porque convenhamos, essa coisa que antes eu estava cheia de bloqueios e traumas e agora sou uma pessoa curada e iluminada é uma grande treta. Este trabalho é para a vida.

Para mim, a cura não passa de uma maior consciência de que a cada momento que nos apanhamos na curva do trauma, podemos escolher diferente, podemos escolher a opção mais saudável para nós. E até podemos optar por não fazer essa escolha, mas temos consciência disso.

E agora apercebo-me que é exatamente sobre essa minha capacidade de cada vez fazer escolhas mais saudáveis que venho falar hoje. Exatamente sobre esta tomada de consciência que prosperidade é ter energia. Que esse é o recurso mais escasso na minha vida e o mais importante. É a base. Porque sem energia eu não terei capacidade de gestar e parir um projeto ou qualquer outra coisa. Não terei capacidade de nutrir relações de qualquer âmbito, não terei capacidade de viver. Sem energia não há vida.

Por isso, está claro hoje para mim que 80% do trabalho para criar e manter um projeto autoral próspero não é produzir, é manter o meu copo cheio. É garantir que a minha energia se mantém saudável, numa boa vibração e que me impulsiona. É sentir-me plenamente nutrida.

E acreditem, para uma pessoa como eu, nutrir-me a mim mesma é um trabalho bem mais complexo do que passar um dia inteiro a produzir. Mas quando me permito fazê-lo, quando faço essa escolha, os resultados não deixam dúvidas.

Quando em maio decidi começar a estruturar o meu novo projeto, estava completamente exausta. O meu corpo pedia-me pausa, mas eu estava tão entusiasmada para dar vida a tudo o que vai dentro de mim que me esqueci de ouvir o corpo. Ou melhor, eu ouvi, mas escolhi fazer-me de parva. Às vezes, muitas vezes, é isso que acontece.

Só que quando me sentei com a energia do projeto e abri espaço para ser ele a guiar-me, levei uma boa bofetada para abrir a pestana. Eu estava convencida que o meu projeto queria vir ao mundo na energia de touro, porque na minha cabeça fazia todo o sentido, mas ele deixou-me bem claro que queria mais uns meses de gestação. E no exato momento que me deparo com esta informação, o meu primeiro pensamento foi: o que vou ficar a fazer estes meses? 

Depois de uns momentos de pânico a tentar processar tudo o que ia dentro de mim, escolhi confiar. Confiar no que a minha alma me estava a pedir e confiar naquilo que não consigo ver, naquilo que não consigo controlar. Apenas render-me a esse mistério. Render-me àquilo que sinto, mesmo que para a minha mente não faça sentido nenhum.

E quando parei de resistir e aceitei, relembrei-me. Relembrei-me que é para ir devagar, com tempo para nutrir e enraizar profundamente. Relembrei-me que não há pressa. Porque não é sobre o destino, é sobre a viagem. Relembrei-me que não é sobre criar um projeto, é sobre como me sinto nessa criação. É sobre o prazer e a realização que esta jornada criadora tem para me proporcionar. 

Subitamente tudo fez sentido. Eu estava completamente subnutrida e queria criar um projeto a partir desse estado. É mesmo engraçado quando ficamos completamente cegas e não conseguimos ver o óbvio que está mesmo à nossa frente. 

Estava claro que eu precisava nutrir-me primeiro. Mas no estado que estava, essa nutrição não vinha somente de descanso e esse era o desafio. Eu precisava mesmo de uma garrafa de oxigénio cheia de vida. Eu precisava de uma aventura.

Nada me carrega mais do que uma boa aventura. Por alguma razão, quando bati no fundo aos 30 anos a minha salvação foi partir de mochila às costas pelo mundo. Digamos que fui "comprar" vida e agora era exatamente o mesmo que precisava. Sair da minha bolha, desconfortar-me e sentir aquelas borboletas na barriga de sair à aventura. Assim fiz. Voltei nova, cheia de vontade de viver, cheia de energia para criar e com muitas lições na mochila.

E é exatamente sobre as lições desta aventura que vos falarei numa próxima partilha. Até lá, deixo para reflexão: quanto tens investido em nutrir a tua energia? Que prioridade lhe tens dado?

;)

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